Consultorias de vendas precisam ensinar o cliente a pensar, com a ajuda da IA.

Mulher mexendo no computador com uma mão robótica.

Muita gente acha que a IA vai substituir os vendedores. 

Mas a verdade é que a IA já assumiu boa parte das tarefas operacionais, do preenchimento de campos no CRM à organização de follow-ups.

O que ela ainda está longe de substituir é justamente o que separa um processo previsível de um teatro bem montado: a capacidade de interpretar sinais, ajustar o discurso na hora certa e tomar decisões que mudam o rumo da venda. Como consultor, seu papel não é só configurar o funil, criar régua ou desenhar um playbook. 

Seu papel é criar maturidade no time para tomar boas decisões com a IA e apesar dela. E isso exige ir além da técnica.

E há um erro que causa isso: quando tudo parece rodar, mas ninguém pensa

Você entra em uma operação e vê:

  • CRM atualizado
  • Dashboards com leads em todos os estágios
  • SDRs mandando follow-ups com consistência

Mas basta uma simulação para perceber:

  • O script é recitado, não adaptado
  • O critério de qualificação é “feeling”
  • O SDR pergunta “foi bom?” no final (porque não sabe o que é bom)

Nesse formato, até os dados certos sustentam decisões erradas. E a IA não pode te ajudar com isso.

A IA preenche o CRM. Mas não interpreta silêncio.

O que a IA já faz bem:

  • Transcreve reuniões
  • Resume objeções
  • Aponta oportunidades no discurso

Mas o que ela ainda não faz e talvez nunca faça:

  • Detectar hesitação no tom de voz
  • Perceber mudança de interlocutor político
  • Ajustar a régua com base em sinais subjetivos

Frequentemente percebemos este comportamento: “O CRM estava impecável, mas o negócio morreu.” E quando olhamos de perto o decisor havia mudado. O vendedor continuou disparando mensagens automáticas para alguém que nem sabia do que se tratava. A IA não errou. O vendedor é que não viu.

Especializar não é empilhar cargos, e como posso isso pode ajudar em um mundo de IA.

Muita empresa acha que especialização é sobre produtividade. Mas, na prática, é sobre distribuir responsabilidade de pensar.

Veja como as fases evoluem:

FaseTimeNível de Maturidade com IA e Papéis
0CEO sozinhoImproviso total. IA ausente ou sem histórico organizado.
1+ SDRIA gera tarefas e follow-ups, mas sem um método.
2+ CloserCloser recebe briefing da IA, mas não consegue agir de forma refinada.
3Duplas por papelIA começa a padronizar e treinar time. Nasce um processo.
4+ LiderançaIA ajuda forecast. Líder atua com base em dados.

O que você deveria observar, mas quase ninguém te conta

Aqui está o tipo de situação que você precisa caçar:

Situação ObservadaO que SignificaDiagnóstico HumanoFrase de Apoio
SDR pergunta “foi bom?” após simulaçãoFalta de critério claroParticipante inseguroSe a pessoa não sabe se mandou bem, talvez o que falta não é talento, é clareza.
Gestor não participa dos rituaisTerceirização da liderançaCheckpoints só com consultoriaSem gestão, a Aquisição de Competência vira curso, não transformação.
Script idêntico para todas as personasFalta de raciocínio adaptávelDiscurso genéricoScript sem critério vira roteiro, não conversa.
Feedback só aparece no erroCultura punitivaNinguém lembra de elogioFeedback que só aparece no erro ensina o time a esconder risco.

Se você ignora esses sinais, arrisca entregar um processo bonito, mas vazio.

Como treinar times para pensar com a IA

  1. Descongele o piloto automático: Pergunte: “Você tomou essa decisão com base em quê?” Isso obriga a parar de agir no modo reativo.
  2. Use a IA como espelho: “A IA apontou isso… e o que você percebe que ela não vê?” Estimula análise contextual, não só resposta automática.
  3. Reforce rituais de discernimento coletivo: Toda reunião de pipeline pode incluir:
    • O que mudou desde a última conversa?
    • O que aprendemos?
    • Qual o próximo passo a partir idsso?

Você não vende uma metodologia. Você ensina uma forma de pensar.

Consultoria não é sobre colocar processos na empresa. É sobre fazer com que a empresa enxergue seus próprios erros e aprenda a corrigir com autonomia. Se a IA já faz o básico, o seu diferencial como consultor é mostrar o que só gente treinada com critério consegue ver. E se você fizer isso bem… Nem o melhor dashboard vai competir com a clareza que você entrega.

Foto de Leticia Mendes

Leticia Mendes

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